as nuvens correm encantadas
em fragrâncias de medo
arcos de cinzas entrelaçam-se
e sonham um horizonte sem luz
mas a luz coloca-se frente a elas
e cresce devagar na noite.
as sombras flácidas circulam
anelam-se nos meus dedos
e crescem como se fossem um lápis de Deus.
os pinheiros entreolham-se
tímidos apagados silenciosos
e unem os ramos indistintos.
parecem uma massa informe
e a cor a apagar-se transforma-se em sons
de cucos e de grilos sonolentos.
o azul desvanece-se ao longe
e o meu olhar a crescer na noite impossível
traça vários arco-íris de amor.
tudo se fecha e cresce e vibra
parece a morte e é a própria vida
a penetrar o meu olhar incrédulo
estarrecido de espanto
o meu olhar a embater
no perfume do ar estonteante
de cores a ser o pôr-do-sol que ontem vi
o pôr-do-sol que hoje vejo.
como não se repete e como é diferente
e… amanhã e... depois de amanhã?…
haverá um novo pôr-do-sol
um pôr-do-sol sempre a ser uma recriação
e tão diferente… qual deles o mais belo?
que encanto e magia omnipotente
porque todos os dias há ali
outros desenhos no espaço entre nuvens e cores
multiplicações incoerentes.
o caos na ordem e a ordem no caos
o pôr-do-sol em Montenegro.
Montenegro, 10 de Julho de 2003
Teresa Ferrer Passos