Virgem Maria Rainha |
«(…) Mirra,
aloés e cássia,
perfumam os teus vestidos.
Nos palácios de marfim, as
harpas te alegram.
As filhas dos reis, ornadas de jóias,
se apresentam,
e à tua direita, de pé, Senhor, está a rainha,
em ouro de Ofir.
Ouve, filha, vê e presta atenção:
esquece o teu povo e a casa do
teu pai.
Porque o rei se deixou prender
Da tua beleza,
ele é agora o teu senhor: ren-
de-lhe homenagem!
As filhas de Tiro vêm com os seus
presentes;
os grandes do povo rendem-te
homenagem.
A filha do rei é toda esplendor no
interior,
tecido de ouro puro é o seu
vestido (…)
Celebrarei o teu nome por todas
as gerações,
de modo que os povos te hão-de
louvar por todo o sempre»
Salmo 45, 10-12, 13-14 e 18*
O MISTÉRIO DO NATAL
1. A Dúvida
Primeiro não sei nada,
só sei que o mundo inteiro
é interrogação
mistura sem sentido
de dor e de prazer.
Depois nasce um bebé
por baixo de uma estrela
num estábulo perdido
e dizem-me que é Deus.
O Todo-Poderoso?
O Criador de Tudo?
O Quase Inominável?
Que veio aqui fazer,
com formas tão humanas
e tão desprotegido,
tão ávido de leite
e do amor da Mãe?
E sofre como nós
(garantem-me que sim)
e morre como nós
mas vai morrer na cruz
em máxima agonia…
2. A Descoberta
… Mistério de uma noite
aberta em pleno dia
chupando todo o negro
como um mata-borrão…
… Mistério da bondade
de um Deus que abre o caminho
rasgando com seu corpo
as frestas que conduzem
do Mundo à Salvação…
Só temos de o seguir,
então porquê esperar?
Podemos começar
talvez neste Natal
olhando o tal bebé
tão semelhante a nós,
tão ávido de leite
e do amor da Mãe
mas contudo tão firme
tão forte na bondade
sereno na certeza
de que se ganha dando
e que as portas do Céu
estão desde sempre abertas
a quem se abre ao Amor.
19/12/2017
Fernando Henrique de Passos
não podes vê-lo
mas sempre que estás com ele
vives um pouco mais de ti
e então respiras
o que ele é
veio através da chuva
e sobre ti
caiu
Carlos Lopes Pires
(a noite que nenhuma mão alcança, 2018)
Nascimento de Jesus num estábulo em Belém, perto de Jerusalém. |
O PRIMEIRO NATAL DO MENINO JESUS
Que noite tão escura,
Menino Jesus!
E tu à procura…
Que procuras tu?
Teu berço vazio,
Maria a chorar…
Volta para a gruta,
Não ouves chamar?
É o teu Natal,
Tens de estar ali…
Como pode haver
Um Natal sem ti?
Pára de correr,
Menino Jesus,
Que ainda vais ferir
Teus pezitos nus…
Volta para a gruta
E terás imenso.
Tens à tua espera
Ouro, mirra, incenso…
Tens à tua espera
Pastores e pastoras,
Eles reverentes,
Elas protectoras…
Tens o S. José,
Que lá está também,
Mas, mais do que tudo,
Tens a tua Mãe!
É noite cerrada,
Já te vejo a custo.
Que buscas agora
Atrás desse arbusto?
“É uma ovelhinha,
Tinha-se perdido.
É o meu Natal?
Tinha-me esquecido…”
Já dormes de novo
No teu berço alvo.
Vela-te, a teus pés,
O bichinho salvo…
20/12/2010
Fernando Henrique de Passos
AS PALMEIRAS
Também o deserto vem
do mar. Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas.
do mar. Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas.
Eugénio de Andrade, Ofício de Paciência, p. 34.
Nossa Senhora do Ó ou da Expectação (séc. XIV) |
«Está próxima a hora… e logo no meu corpo nascerá a criança divina para a salvação dos que praticam o mal. Dizia para si Maria, sem ninguém conseguir escutar a sua voz. E via, com um desmedido contentamento, o seu corpo a encher-se de uma forma ovalóide, sob os panejamentos de linho que a cobriam. Crescerá no meu ventre aquele que vem para perdoar, não para condenar, dizia a José, sorrindo. Então, a felicidade crescia nela e era tão funda que os seus olhos transbordavam de lágrimas brilhantes como o sol.»
MEDITAÇÃO SOBRE O NATAL
( invoco, para a Musa, o 10 de Copas Arcano )
In memoriam de D. Manuel Martins
ao Padre José Tolentino Mendonça
de todo o coração, ao meu Irmão Luís André
«Felizes os que têm fome e sede de
justiça, porque serão saciados.»
Mateus, 5, 6
Uma Estrela me alumia
Nesta leira e neste vale.
Terça-feira, agora é dia,
Dizem todos: é Natal.
Que esta vida santa seja,
Pois há fome, no entanto,
Sete velas na igreja
Mas, ao lado, ali há pranto.
Passam damas e burguesas
Passeando o seu perfume:
Para o pobre, não há rezas,
Numa ceia, não há lume.
Mas se a Luz abençoada
É qual lavra e rouxinol,
Meus irmãos, é madrugada,
Miseráveis, vede o Sol.
E ó piratas da finança,
Capitalistas, ufanos:
Vai nascer uma criança
Para nós, samaritanos.
Ó riquezas do porvir,
Oligarquias, colectas:
O Menino vai florir
Té na lama das sarjetas.
Pois se, ó rico, ó farisaico,
O deus-cifrão te alicia,
- Ó primatas do prosaico,
O Natal é Poesia!!!!!!!!!!!
MISERANDO ATQUE ELIGENDO