Maria Santíssima a mostrar Jesus aos pastores |
CONVITE PARA O PRESÉPIO
Pastora, minha colega,
Esta noite é tão estrelada
Que até a alma mais cega
Nela vê uma alvorada.
Pastora, doce pastora,
Anda ver o Deus Bebé
A dormir na manjedoura
Entre Maria e José.
Razão minha desta trova,
Dá-me a mão e vem comigo
Onde nasce a Boa Nova
E se acaba o Tempo Antigo.
Quero ser o teu pastor ─
Casa comigo em Belém
Nessa gruta onde o Senhor
Une o Aqui ao Além.
Tendo Jesus por padrinho
Caminharemos cantando
Por mais pedras no caminho
Que o caminhar vá mostrando.
E muitos anos passados
Sobre esta noite de luz
Seremos também lembrados
Quando lembrarem Jesus…
Natal/2016
Fernando Henrique de Passos
«O Incompreensível deixou-Se compreender e conter perfeitamente pela pequenina Maria, sem nada perder da Sua imensidade; é também por Maria que nos devemos deixar conter e conduzir, sem nenhuma reserva.»
«O Inacessível aproximou-Se, uniu-Se estreitamente, perfeitamente e mesmo pessoalmente à nossa humanidade, por intermédio de Maria, sem nada perder da Sua Majestade; será igualmente por Maria que nos devemos aproximar de Deus e unirmo-nos à Sua Majestade.»
«"Aquele que é" quis descer àquele que "não é", fazer que aquele que "não é", se fizesse Deus, ou "Aquele que é"; e fez isto perfeitamente, entregando-Se e submetendo-Se perfeitamente à jovem Virgem Maria, sem deixar de ser no tempo "Aquele que é" desde toda a eternidade».
Luís Maria de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, Paulus Editora, Lisboa, 2009, pág.144 (original manuscrito entre 1710 e 1716, ano da morte do seu autor e somente descoberto em 1842).
DA ROSA DE SARON
(avoco, para mim, o Arcano e Arcaico do Sol de Justiça)
«ab imo corde», à lilial Maria Azenha
«in memoriam» de Joséphin Péladan
ao Mago Merlin, de Tomar
à Ordem da Milícia dos Cavaleiros do Templo
«Porquanto um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado;
tem a soberania sobre os seus ombros, e o seu nome é:
Conselheiro Admirável, Deus herói, Pai Eterno, Príncipe da Paz.»
Isaías, 9: 5
I
Meu coral, Menino d’oiro,
Meu zagal sempre a sorrir,
És Saudade e bom agoiro
Para o tempo que há-de vir.
Tive um sonho Nazareu:
Nós partamos nosso pão
Para o bárbaro e judeu,
Para o árabe e Cristão.
Pois em Nova e Paracleto
Eis o mar e eis Maria,
Ele é frol e é dilecto,
Vem da Cova da Iria.
II
E quanto à Luz, que me encanta???
Quanto à frol, hierofanta???
Meiga e mansa, em mancenilha,
Em apólogo, e aprisco,
Em epígrafe ela brilha:
É Poeta, e é Francisco.
Tu verás erguer o Santo
No seu cálamo, acalanto,
Ser o lídimo, a Minerva,
E fazer Rainha a serva.
E tu verás, em Saron,
Uma Rosa, de bom tom,
Pois ao leme dos Arcanos,
Elimina-se o Averno;
Nós em remos, sorriamos:
O Natal é sempiterno.
Que Luz, 08/ 12/ 2016
AD MAJOREM DEI GLORIAM
Paulo Jorge Brito e Abreu
TU SENHOR
criaste as flores
e as abelhas
engrandeceste
as coisas simples
e os sinais
deste-nos o que era teu
e deixaste
que usássemos a luz
e tudo o que era abundante
e depois ficámos sós
uns e outros
desmerecendo a água
e as nossas próprias mãos.
e um de nós
que eras talvez tu
elevámos em humilhação
e morte
***
ESTA É A FORMIGA DOS MEUS POEMAS
ela foi amada pelos seus
e por algumas formigas
uma das quais foi sua mãe
e foi maior que tudo
o que tocou
e de tudo fez água
e depois azul
e a todos pôs numa janela
de abrir
para que eu caminhe
para que eu cante
Carlos Lopes Pires
(dois poemas do livro A Minha Poesia é uma Ignorância, a publicar em Fevereiro de 2017)
MEDITAÇÃO
Cardeal Angelo Comastri
(Via Sacra, IX Estação, Jesus cai pela terceira vez,
Jesus em agonia no jardim das oliveiras |
Pascal argutamente observou:
«Jesus estará em agonia até ao fim do mundo;
«Jesus estará em agonia até ao fim do mundo;
é preciso não dormir durante este tempo».
(B. Pascal, Pensamentos, 553)
Mas, neste tempo, aonde agoniza Jesus?
A divisão do mundo em zonas de bem-estar
e em zonas de miséria... é, hoje, a agonia de Cristo.
De facto, o mundo é formado por dois compartimentos:
Num compartimento desperdiça-se
no outro definha-se;
num morre-se de abundância
e no outro morre-se de indigência;
num teme-se a obesidade
e no outro invoca-se a caridade.
Por que é que não abrimos uma porta?
Porquê não formamos uma única mesa?
Porquê não entendemos que os pobres
são a cura dos ricos?
Porquê? Porquê? Por que somos tão cegos?
Cardeal Angelo Comastri
(Via Sacra, IX Estação, Jesus cai pela terceira vez,
presidida pelo Papa Bento XVI,
Coliseu de Roma, Sexta-Feira Santa, 2006)
ORAÇÃO
Jesus nos braços de Sua mãe Pormenor da pintura de Adolphe Bougereau (1825-1905) |
Ó Maria,
naquele Filho Tu abraças cada filho
e sentes o transe de todas as mães do mundo.
Ó Maria,
as tuas lágrimas correm de século em século
e banham os rostos
e choram o pranto de todos.
Ó Maria,
Tu conheces a dor… mas crês!
Crês que as nuvens não apagam o sol,
crês que a noite prepara a aurora.
Ó Maria,
Tu que cantaste o Magnificat,
entoa-nos o cântico que vence a dor
como um parto do qual nasce a vida.
Ó Maria,
roga por nós!
Roga para que chegue também a nós
o contágio da verdadeira esperança.
Cardeal Ângelo Comastri
(Via Sacra, Décima terceira estação, Jesus é descido da Cruz e entregue a sua Mãe, presidida pelo Papa Bento XVI, Coliseu de Roma, Sexta-Feira Santa, 2006)
A BOA NOVA
«Não nos cansemos de praticar o bem»
Gál. 6, 9
Jesus, o Deus encarnado, ensinou um
mandamento novo: «Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, vós
também vos deveis amar uns aos outros» (Jo
13, 34). Daqui nasce o espírito essencial que percorre todas as suas
palavras: Jesus não diz que se ame a Deus ou que amem a Deus, mesmo na Sua
pessoa visível. Exige antes que se amem uns aos outros, como Ele nos amou.
Ele, Jesus, que revelou o amor de Deus
aos seus filhos humanos porque deu a Sua vida por eles, na cruz. Eles a quem
Deus conhecia desde o Princípio. Porque Deus sabe que é impossível amar o
invisível, sem primeiro ser capaz de amar o que se vê. E é esta a única grande
Palavra de Jesus, a palavra do Deus encarnado aos Homens. Na verdade, Jesus, o
Filho do Altíssimo, não põe em primeiro lugar um amor abstracto, incorporal,
difuso, vago, a Deus.
O que põe como condição para O seguirem
é que se amem uns aos outros. Só isso agrada a Deus. Só isso é segui-Lo. Só
isso, é salvar-se e poder entrar no seu Reino. Daqui parte toda a palavra nova
que Jesus oferece – esta é que é a Boa Nova em relação às Antigas Escrituras.
O amor fraternal entre os Homens está no
cimo da pirâmide. Como se pode amar a Deus, que não vemos, sem dar a Deus
testemunho de que somos capazes de amar aqueles que estão ao nosso lado? Isto é
a pedra angular da missão na terra de Jesus. Este é o sinal que constrói no seu
edifício a palavra de Deus.
O amor fraterno que Jesus indica como a
massa com que se deve cozer o pão da Vida, pressupõe a união entre o Céu e a
Terra em que avulta a comunhão maior: a comunhão do amor entre um homem e uma
mulher: “E os dois serão uma só carne”.
Natal/2016
Teresa Ferrer Passos
O NATAL DO HOMEM SEM DEUS
Esqueceu-se donde vem
Esqueceu pra onde vai
Esqueceu qual a missão
Que o trouxe a esta terra
Na qual tantas delícias
E tantos afazeres
O podem distrair
A ponto de esquecer
Que há algo que esqueceu…
Que apego inda o mantém
Na rota que aprendeu
Não sabe já de quem?
15/12/2016
Fernando Henrique de Passos
A obra O Anjo disse-me. Autobiografia de Maria do cardeal Ângelo Comastri foi traduzida em França, em 2010, mas continua a não haver uma tradução para português, nem sequer pelas editoras mais vocacionadas para o concretizar. E isto, a poucos meses da celebração do 1º Centenário das Aparições de Fátima a 12 e 13 de Maio, com a presença do Papa Francisco.
«Em cada mãe há algo de Maria, algo desse mistério gratuito do amor que consegue ler o alfabeto da vida e da Bíblia escritos por Deus» (...) «Se falta a mãe, e hoje estamos numa crise de maternidade. devemos perceber todo o risco e a dramaticidade, a civilização cai: não consegue já ler o alfabeto da vida, não se consegue ler sequer o alfabeto da religião, e chega a faltar uma visibilidade de Deus, a visibilidade justamente através da mãe».
Palavras do Cardeal Ângelo Comastri em Roma (no lançamento da sua obra L’Angelo mi disse. Autobiografia di Maria, San Paolo Edizioni, Novembro de 2007.
SANTO NATAL