segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Acerca de um comentário de Carlos Lopes Pires escrito no Facebook sobre o ensaio «A Lágrima de Ulisses - Regimes da Cultura Literária» (Editora Exclamação, 2021), de Manuel Frias Martins :

"Literatura que se abra para uma espiritualidade sem dogmas" diz-nos o Psicólogo Carlos Lopes Pires, citando o ensaísta. Mas como gizar uma espiritualidade sem nenhum dogma, ou seja, sem um princípio orientador que dê um sentido para o caminho? Como consegui-lo? Dizer só que o rumo é a espiritualidade é muito vago, é algo de indefinido, algo que pode vir marcado por ideologias de todas as feições, sem ética, com uma ética da violência ou com uma ética do amor... Muitos sentidos é possível encontrar ao escrevermos a palavra espiritualidade. Se a espiritualidade não tiver uma marca, um sinal de sentido, como perfilhá-la com sentido da responsabilidade? Por isso, afastar qualquer dogma que seja fundamento de uma nova espiritualidade, é entrar num caminho esvaziado de conteúdo, de fios condutores, num caminho em que todos se podem perder e ninguém se encontrar.

29/11/2021

                                                               Teresa Ferrer Passos

Comentário de António DAlmeida Nunes:

Na minha opinião pode falar-se e sentir a emoção espiritual de se ser parte do cosmos (particularmente o poético) sem termos de nos prender ao fio condutor seja de que dogma for. O sentido do caminho vamo-lo encontrando à medida que caminhamos. Mesmo sabendo que as rosas também têm espinhos.

Resposta a António DAlmeida Nunes:

«Só que "emoção espiritual" é uma coisa e "espiritualidade" é outra, caro António DAlmeida Nunes. Além disso, literatura tem a ver com ficção das palavras, com o modo de dizer a palavra, a frase, com o enredado das palavras, é uma forma de dizer diferente, o que nada tem a ver com «espiritualidade nova». A espiritualidade é muito mais abrangente do que qualquer literatura, seja ela de que linha for. A espiritualidade é um fundo pensante que tende ao universal, ao global, enquanto a literatura não, a literatura é uma forma que tem as suas fórmulas específicas que não têm em vista levar à globalização, ainda que muitos o tentem... A literatura não tem em vista "fazer", nem pode ter em vista "fazer" uma "espiritualidade nova".

Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

 MEMÓRIA na morte do poeta ANTÓNIO OSÓRIO (1/8/1933-18/11/2021). Aqui deixamos um poema do livro «A Ignorância da Morte», Edição de Autor, 1978:


Alcantarilha antiga

ALDEIA DE IRMÃOS

Ao pé dos eucaliptos,
do lavadouro, as casas.
Capela fechada, oficiantes ratos,
e cães, patos, galos
na rua e a dormir dentro,
individuais, sub-reptícios.

E doentes, cavadores, crianças
sonhando com ninhos destruídos.
Longe, na paróquia o cemitério.

Em torno vinhas, olivais,
irmãos uns dos outros
como tijolos dentro da parede.
E no inverno o canto
da lenha exorbitante na lareira,
a queimar, a queimar a cinza por debaixo.

quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Árvore da Vida


Os lares são uma equívoca solução que coloca os mais velhos numa solidão tremenda. A solidão das coisas que, na nossa casa, falam connosco todos os dias e as nossas memórias maiores desaparecem! Ter muitas pessoas à nossa volta com quem não há diálogo, só agrava mais a solidão daqueles que perderam os seus entes mais queridos da sua presença.

11/11/2021
Teresa Ferrer Passos

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

POEMA INÉDITO

Acácia do deserto

ÁRVORE PERDIDA


era já tarde na casa da árvore pedida
desfolhada sem terra. só silêncio.

era já tarde no tempo vasto a derreter a neve
das minhas horas passadas entre sombras.

era já tarde e o tempo não estava aqui.
não tinhas chegado à minha ventania.
o tempo tinha parado em mim
como espuma inquieta.
de súbito o tempo girou forte.
e foi a emoção com as asas do pássaro
a mostrar a força do amor.
o tempo num relâmpago vi. e eras tu.
com que luz intensa e inesperada!

5 de Novembro de 2021
(no 28º aniversário do nosso noivado)

                                               Teresa Ferrer Passos

POEMA INÉDITO

 



O CAMINHO

Abri as portas do Jardim do Éden,
Julgando que era o ponto de chegada.
Mas não encontrei as luzes de um poente
E sim o raiar da madrugada.

Abri as portas do Jardim do Éden,
Julgando que era o ponto de chegada.
Mas fora Deus quem me pusera ali,
Eu na verdade não andara nada.

Abri as portas do Jardim do Éden,
Julgando que era o ponto de chegada.
Tu estavas no centro à minha espera
E começou então a caminhada.

5/11/2021 (no 28º aniversário do nosso noivado)

                     Fernando Henrique de Passos

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Dia de Finados


E os que saíram da nossa presença, do nosso amor e da nossa amizade, continuam presentes na nossa memória enquanto durar!

2 de Novembro de 2021
T.F.P.