terça-feira, 27 de abril de 2021

EM MEMÓRIA... Fernão de Magalhães

1ª Viagem de circum-navegação do Globo
sob a capitania de Fernão de Magalhães.


EM MEMÓRIA do descobridor da passagem do Atlântico para o Pacífico pelo Ocidente (provou que a Terra era redonda), Fernão de Magalhães. Nasceu em 3 de Fevereiro de 1480, na aldeia de Sabrosa em Trás-os-Montes, Portugal. A viagem foi realizada ao serviço do rei de Espanha e imperador da Alemanha Carlos V.
No V centenário da sua morte numa ilha das Filipinas, atingido por uma flecha indígena em 27 de Abril de 1521:

Poema de Fernando Pessoa intitulado
FERNÃO DE Magalhães

No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras disformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?
São os Titãs, os filhos da Terra,
Que dançam da morte do marinheiro
Que quis cingir o materno vulto —
Cingi-lo, dos homens, o primeiro —,
Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada
Do morto ainda comanda a armada,
Pulso sem corpo ao leme a guiar
As naus no resto do fim do espaço:
Que até ausente soube cercar
A terra inteira com seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não
O sabem, e dançam na solidão;
E sombras disformes e descompostas,
Indo perder-se nos horizontes,
Galgam do vale pelas encostas
Dos mudos montes.

Fernando Pessoa, Mensagem, Edições Ática, Lisboa, 10ª ed. 1972, pág. 67 (Parceria António Maria Pereira, 1ª edição, 1934 [única obra publicada em vida do autor]).

segunda-feira, 26 de abril de 2021

UM POEMA de Manuel Neto dos Santos:

 


Um dos cactos da minha varanda, começou a florir
nas folhas/caule.  Um cacto (schlumbergera truncata)
que ostenta flores em vez de espinhos.


Vem! partilhemos o mundo, os retalhos de
países com a negação dos "muros" que tornam
insulares a China, Berlim, Israel, o México e a
Irlanda.
Vem, poesia universal, com as tuas lúcidas
bandeiras e derruba a porta estreita populista.
Vem! partilhemos o mundo que é nossa a
fraternidade das palavras
Aprendamos, dos erros, a conquista de ter (pela
alma) a demanda.

Manuel Neto dos Santos, «Azahar. Tributo a al-Mu'tamid», Wanceulen Editorial, Sevilha, 2020, pág. 157.

terça-feira, 20 de abril de 2021

Acerca do Portugal da interioridade ou Vilarinho das Furnas (Gerês).

O Portugal inteiro, desprezado hoje, mas ainda aí, ainda pronto a ressurgir um dia, em que gente outra o resgate e lhe dê vida!
Vilarinho das Furnas, Gerês
(foto de Patrícia Cardoso)

Quando uma tecnologia avançada destrói a vida de aldeias ou de vilas do interior de Portugal, porque alguns querem esconder esse interior como inexpressivo da portugalidade, agride-se cada um dos seus habitantes, como se nada significassem e como se todos estivessem condenados a um autoritarismo que quer impor o progresso à custa do desprezo pelos habitantes, esses que, apesar da pobreza da terra se foram perpetuando ao longo das gerações e, heroicamente, perpetuaram as fronteiras históricas da sua pátria. As suas casas estão aí, visíveis, porque não os esqueceram; antes sobreviveram com o seu granito capaz de lhes conservar o chão e as paredes quase intemporais, como se tudo continuasse vivo e ainda à espera da justiça de tempos distantes, mas mais clementes, a augurar-lhes um destino em que tinham deixado de acreditar. Resta esperar.

20/4/2021
Teresa Ferrer Passos

segunda-feira, 12 de abril de 2021

 Uma passagem do inovador romance O VENTO de Claude Simon (1913-2005), Prémio Nobel da Literatura, em 1985:


Plátano, uma árvore que pode atingir
50 metros de altura e 2000 anos de idade


«(...) e Montès sempre na mesma posição (não bulira, não abrira a boca, não esboçara um gesto), vendo agora à sua frente, no lugar onde o intruso, vociferando e gesticulando, estivera momentos antes, a parede nua, incolor, vazia. Mas tão pouco se moveu, nem mesmo pensou em levantar-se para ir buscar a revista e retomar a leitura. Disse-me que nem se lembrava de ter estendido o braço para o interruptor. Porque não foi para dormir: foi apenas um reflexo, um gesto maquinal, e ficou tudo escuro, e ele ali estendido, o braço de novo sob a coberta, o corpo não na posição do sono, da descontracção, mas recto, duro como um cadáver, os pés juntos, os grandes olhos abertos para a obscuridade onde, pouco depois, começaram a distinguir o retângulo mais claro da janela, enquanto no tecto iam e vinham sem parar os ramos de plátano. (...)»

    Claude Simon, O Vento, tradução de Mário Cesariny de Vasconcelos, Colecção Contemporânea, 42, Portugália Editora, Lisboa, pág. 196 (1ª edição, Paris, 1959)