segunda-feira, 12 de abril de 2021

 Uma passagem do inovador romance O VENTO de Claude Simon (1913-2005), Prémio Nobel da Literatura, em 1985:


Plátano, uma árvore que pode atingir
50 metros de altura e 2000 anos de idade


«(...) e Montès sempre na mesma posição (não bulira, não abrira a boca, não esboçara um gesto), vendo agora à sua frente, no lugar onde o intruso, vociferando e gesticulando, estivera momentos antes, a parede nua, incolor, vazia. Mas tão pouco se moveu, nem mesmo pensou em levantar-se para ir buscar a revista e retomar a leitura. Disse-me que nem se lembrava de ter estendido o braço para o interruptor. Porque não foi para dormir: foi apenas um reflexo, um gesto maquinal, e ficou tudo escuro, e ele ali estendido, o braço de novo sob a coberta, o corpo não na posição do sono, da descontracção, mas recto, duro como um cadáver, os pés juntos, os grandes olhos abertos para a obscuridade onde, pouco depois, começaram a distinguir o retângulo mais claro da janela, enquanto no tecto iam e vinham sem parar os ramos de plátano. (...)»

    Claude Simon, O Vento, tradução de Mário Cesariny de Vasconcelos, Colecção Contemporânea, 42, Portugália Editora, Lisboa, pág. 196 (1ª edição, Paris, 1959)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixe aqui o seu comentário