segunda-feira, 14 de junho de 2021

POEMA INÉDITO

SILÊNCIO E VOZ

O silêncio é a voz da eloquência maior,
é o som que se esconde e vivifica,
não ilude, não adula
nem faz tropeçar o inocente.
O silêncio não engana com artifícios,
não faz cair em banais palavras,
levanta o enterrado na solidão.

É sentimento forte sem cansaço.
O silêncio engrinalda o sofrimento,
descobre o tamanho da sua alma incendiada
e habita o vento com seus murmúrios.

A flor do incenso a exalar perfume
é um silêncio longo de abandonadas colinas.
Uma semente que cai à terra é o fértil
calor de um silêncio que se eleva até à criação.
A morte segrega o silêncio a cada momento
e transforma-o em vida que irrompe a rodos.

O silêncio está em cada árvore
e nas aves quando cantam ao crepúsculo
e nos lagos calmos que entoam no silêncio
o espelho e a transparência das suas águas.

O silêncio não precisa de palavras,
vê mesmo um simulacro em todas as palavras.
Para quê palavras, pergunta. As infinitas imagens tudo dizem,
responde. As imagens dizem a existência.
Está aqui o silêncio.

13/6/2021

                                                                      Teresa Ferrer Passos  

MEMÓRIA de FRANCISCO MANTERO (1948-2021)

Francisco Mantero

Consultor da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Francisco Mantero morreu no dia 11, aos 72 anos, na sua casa, em Cascais. Francisco Mantero morreu inesperadamente. Conheci-o aos 16 anos, como colega do Liceu de Oeiras. Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, desenvolveu numerosas atividades ligadas à economia nacional e aos países lusófonos pelos quais tinha verdadeiro fascínio. De uma simplicidade notória, gostava ainda de conviver com colegas da turma em que concluiu o curso do liceu.

Com muita saudade, lembro neste momento em que nos deixou, a sua carreira ligada à gestão de empresas em África ou relacionadas com aquele continente, em S. Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Moçambique. Do seu percurso, destaco ainda funções na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa/Associação Comercial de Lisboa, com o pelouro das Relações com os Países Lusófonos e Cooperação Internacional. Tendo integrado a Comissão Nacional da UNESCO. foi presidente e vice-presidente do Conselho Geral da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Económico e a Cooperação. Desempenhou ainda a função de secretário geral da Confederação Empresarial da CPLP-Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Pertenceu também, entre outros desempenhos, ao conselho de Orientação do Instituto de Investigação Científica Tropical. Foi condecorado pelo Presidente da República Portuguesa com o grau de Comendador da Ordem do Mérito.

14/6/2021
Teresa Ferrer Passos

sábado, 12 de junho de 2021

A vida é uma esperança em contínua renovação que se vai renovando sempre, como se fosse eterna! E à morte resta perder a batalha.
12/6/2021
T.F.P.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Um Poema Inédito:

A PALAVRA

A palavra. Quando verte o azul celeste,
refresca-se no mar. Recorte do céu.
Encanto de areais longos 
e de ventos agitados sem seguro lugar.

A palavra. Onde os abismos permanecem,
onde se veem ninhos de cegonhas acabadas de nascer,
prontas a voar, sem medo do largo espaço. 

A palavra. Paira amarga entre penedos. 
Ondas gigantescas contorcem-na.
A espuma branca devora-a.
Esparge sentidos que nem o mar descobre. 

A palavra. Apaga-se nos vales das sombras,
enterra-se nos fundos pântanos,
adia a pureza. Impossível cruzada.

A palavra. Rompe as barragens da voz
e aos mistérios, não retira os grilhões.


Sílabas mortas, entrelinhas, desvarios, 
espantosas armadilhas. Secretas. Vagas.
Indesvendáveis. A palavra.

10 de Junho de 2o21
                                             Teresa Ferrer Passos


quarta-feira, 9 de junho de 2021

DIA de PORTUGAL, de CAMÕES e das COMUNIDADES PORTUGUESAS


"A primeira tarde portuguesa" pintura datada de 1922, representa a batalha de S. Mamede da autoria de Acácio Lino de Magalhães.


Recordando o historiador Damião Peres, uma pequena passagem de um dos seus livros mais empolgantes:

«No dia 24 de Junho de 1128, o conflito teve a sua decisiva crise: as forças de D. Teresa e a hoste com os partidários de D. Afonso Henriques defrontaram-se nos campos de S. Mamede, próximo de Guimarães. Saiu vitorioso Afonso Henriques, que expulsou para a Galiza o conde Fernando Peres e D. Teresa.
Anulada a autoridade de D. Teresa, Portugal passa a ser governado exclusivamente pela gente portuguesa, de que é a primeira figura Afonso Henriques. Essa luminosa tarde foi realmente a 'primeira tarde portuguesa'»

Damião Peres, Como Nasceu Portugal, Portucalense Editora, Porto, 1959, pp.112-113.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Ainda a propósito do Dia do Corpo de Deus



O Cristo pregado na cruz: entre a natureza humana e a natureza divina. O sinal de contradição: o sofrimento todo humano e a paz toda divina.

8/6/2021
Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 3 de junho de 2021

Dia do Corpo de Deus


Raminho da 5ªfeira da espiga

Jesus, o Corpo de Deus, a revelar o Pai no diálogo com a humanidade - esta a revolução maior do mundo. E, hoje, parece que poucos dão por ela. A humanidade virou-se tão para dentro de si própria que pouco vislumbra e valoriza o que venha de um Além maior a procurá-la.

3/6/2021

Teresa Ferrer Passos

Em memória do dia 1 de Junho de 1890, dia da morte, em S. Miguel de Ceide, do escritor CAMILO CASTELO BRANCO (1825-1890)



Da obra O Segredo de Ana Plácido (romance) de Teresa Ferrer Passos:

«Só o perfume dos ramos de alecrim, do alfazema e do rosmaninho aromatizava o ar que respirava deitado de bruços e com a cabeça embrulhada nas minhas pequenas mãos... notei um aroma a rosa. Quase imperceptível. De súbito. Sem dar por isso senti as mãos de Camilo com uma rosa vermelha a tocar os meus cabelos anelados. Senti a flor como se a estivesse a ver. Não levantei os olhos da almofada. Mas vi o odor e o seu colorido aveludado ou leve como uma gotícula de orvalho.
Camilo permaneceu a meu lado alguns instantes. Ou dias(?). Não sei dizê-lo. Que os distingue? entrou após ele o Manuel. Pegava em estrelas do Egipto e goivos brancos. Também não os olhei. Conheci-os só pela sua proximidade ou porque as flores sempre me falaram sem que alguém as pudesse escutar? Toma! disse Manuel. A imobilidade estava em mim. Como um som que não sai do piano. Nada disse. Camilo chamou-me. Jorge! escuta meu filho... deixa-me beijar-te os olhos... deixa-me tocar as tuas faces imersas no nevoeiro que me rodeia sem cessar. Não respondi. Percebi que Manuel saíra, mas Camilo ficou ainda. Não dei pela sua saída. A rosa ficou porque continuei a respirar o seu odor intenso. As flores são mais belas do que todas as estátuas mesmo as de granito, mesmo as flores que não são perfumadas. O perfume de todas as flores faz-me chorar porque ouço a sua voz inconfundível. Tão diferente da voz humana é a mais humana das vozes. Choram em silêncio. Riem sem esboçar uma simples ruga nas suas pétalas.»

Obra citada, Edições Gazeta de Poesia, 1995, pp. 122-123.