quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Férias no vazio do espaço



Excerto do conto "Primeiro Dia de Férias no ano de 2127", in Teresa Ferrer Passos, «O Grão de Areia» (Contos), Universitária Editora, Lisboa, 1996, pp. 48-49:

«Desanimado, António não se conteve por mais tempo:
- Não percebo, nesta viagem não há estradas nem montes nem as casinhas dos vales e das aldeias, como é costume nas viagens que fazemos com o papá... 
- Nem verás! Não te lembras de o papá dizer que esta viagem seria diferente de todas as outras que temos feito? É uma viagem para a Lua, aquela pequena esfera que, às vezes, espreitas da janela do teu quarto e que tu achas muito estranha porque nem sempre tem a mesma forma e o seu brilho é tão intenso que até parece uma estrela muito maior do que as outras. - disse Joana, contente por dar uma lição ao irmão. 
- A mim, o papá só me disse que esta viagem ia ser diferente e que eu gostaria muito respondeu António, decepcionado por o pai ter dado mais pormenores à irmã do que a ele. 
- Foi para te fazer surpresa - disse Joana rindo. E fingia não perceber as lágrimas a engrossarem nos grandes olhos azuis do António. Depois exclamou, já esquecida das lágrimas do irmão: 
- Não há sequer uma ave no céu! Mas será que há céu?! Daqui não se vê senão uma grande escuridão. 
- Não... e na Terra há tantas coisas. Aqui é tudo tão triste... Porquê?! interrogou o garoto, olhando a irmã, como à espera de uma qualquer explicação que o pai lhe tivesse dado a ela, quando ele não estava presente.»


quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Poema do 27º aniversário do nosso noivado


TRANSPARÊNCIAS

Sinto-te tão frágil nos meus braços,
Tu, amiga minha e minha força…
(De ti projeta, a luz do fim de tarde,
A delicada sombra de uma corça…)

Leio o teu nome ao fim de uma poesia
Na luz de Outono caindo da vidraça
E as letras bailam parecendo querer dizer-me
Que, embora Teresa, para mim tu foste Graça…

Sinto-te tão doce nos meus braços,
Mesmo apesar dos anos já passados…
(De nós projeta, a luz do fim de tarde,
A sombra ardente de um par de namorados…)

5 de Novembro de 2020

Fernando Henrique de Passos

O ANEL, UM GESTO

Pássaro quase invisível 
no meio das rochas

um gesto feito de um anel
de palavras 
rompeu os horizontes daquela manhã simples
como pássaro célere que as rochas encobrem
e descobrem.
as horas foram longas naquela manhã,
os minutos estremeceram com fragância,
os segundos sustiveram
a respiração. 

um gesto feito de um anel
sem palavras
ergueu-se veloz como um pássaro tímido
em busca da rocha-ninho de um amor
que nunca imaginou. 

5/Novembro/2020
                                 Teresa Ferrer Passos




quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Um poema inédito


O MEU NOME


Não serei nunca o meu nome, ele é uma falsa
imagem de mim. Eu não estou nele. Um nome
é uma transmutação. Afasta-se de nós.

Como uma marca apaga-se depressa, semelhante
a um número entre tantos outros,
pura abstração sem conteúdo algum.

Sei que não sou o meu nome. Quem sou, afinal?
Talvez não seja mais que uma palavra 
que só se ouviu quando a proferi,
no mais dentro de mim. 

4/Novembro/2020
                                                      Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Nótula sobre «Ecos abaixo do Audível» de Fernando Henrique de Passos


"As estrelas soltaram-se dos céus, / Caíram-me nas mãos." Dois versos da obra Ecos abaixo do Audível, em que a poesia de Fernando Henrique de Passos se reafirma rica em metáforas literárias, num confronto contínuo com a Física e a Matemática, sua formação académica universitária.

Em múltiplos cenários, o investigador científico, é também um criador de imagens, como se exige a todo aquele que se afirma com o «pré-nome» de Poeta.

Poesia sem literatura não existe, a não ser como um simulacro.

31/10/2020
                                                                        Teresa Ferrer Passos


A espuma é o que resta do mar.
   
3/11/2020
                                                T.F.P.

domingo, 1 de novembro de 2020

Outono

Que enquanto as folhas caem, nós sejamos capazes de vencer, com a nossa dádiva, o medo, o grande inimigo que espreita para nos reduzir a nuvens que obedecem ao vento.
1/11/2020
                                            Teresa Ferrer Passos