domingo, 31 de maio de 2020

Distanciamento social... covid 19

É preciso respeitar o distanciamento social...
Não sei se nos formos afastando cada vez mais, não ficaremos, paradoxalmente, juntos demais num confinamento mental, sem lugar.
31/5/2020
Teresa Ferrer Passos

terça-feira, 26 de maio de 2020

Pandemia de Corona vírus - metáfora da degradação do eco-sistema global?


O Corona vírus espalhou-se por toda a Terra: mata em massa populações indefesas, sobretudo os mais fracos (velhos, adultos e crianças com doenças crónicas), está em todos os lugares sem algo que o identifique ou previna; cria mundos digitais desencarnados, resultantes do confinamento artificial das pessoas; totalitariza os mass media que publicitam o vírus como uma nova realidade ("o novo normal") que absorve tudo o que lhe é estranho; inseguro o ambiente, provoca milhões de desempregados e torna galopante o número de pobres.
Por sua vez, o eco-sistema da Terra está a ser abalado pela morte indiscriminada: a poluição atmosférica tem-se espalhado por todo o mundo e atingido com a morte e com a doença milhões de seres humanos, através das emissões de monóxido de carbono e de gases de efeito estufa; a poluição atinge a sobrevivência dos eco-sistemas naturais e alarga os níveis da mortalidade humana; os mass media divulgam medidas até à exaustão, para conter o esvaziamento dos recursos naturais, mas as medidas tardam ou não são eficazes.

O ar é o perigo que ninguém pode esconder, multidões o inspiram, nas grandes cidades ou nas aldeias, nos campos ou nos mares, nos pólos ou na montanhas, não há resguardo possível para uma morte não anunciada, mas inevitável. Morte que é a todo o momento espectável, tão espectável como a provocada por um qualquer Corona vírus. 

O Corona vírus da Covid 19 não será uma metáfora da degradação do ecosistema global da Terra? Quem sabe, hoje, se pode escapar (é aleatório) de uma atmosfera envenenada não se sabe onde, nem quando? E para ambos os casos - Corona vírus ou poluição atmosférica - a pergunta é legítima.

26/5/2020
Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Na 5ª feira da Espiga, um raminho de memória...



QUINTA-FEIRA DA ESPIGA

Toma o tempo que quiseres.
Senta-te aqui e deixa-te arrastar
Pela contemplação desse mistério,
O grande torvelinho imóvel que te sorve,
Que te arranca as camadas do corpo e, uma a uma,
As recoloca depois na ordem certa.
Toma o tempo que quiseres, mas não perguntes
Que faço aqui no meio das papoilas?
Aguarda apenas que os sons do campanário
Deixem de ser exactos algarismos,
E que o óleo de novo se torne em aguarela
Na hora plena das doze badaladas
Fundidas num único sol-posto,
Prenúncio da derradeira madrugada,
Aquela que nunca terá fim.

     Fernando Henrique de Passos, Breve Viagem nas Margens do MistérioHora de Ler, Leiria, 2018, pág.27.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Santo António de Lisboa (1195-1231)

Aparição do Menino Jesus
a Santo António
«É como se, em determinado momento, o nome, com o qual a família e os amigos nos chamaram até então, se descolasse de nós e nos abandonasse. Porque algo de novo está a chamar por nós, e não por falta de identidade ou traição às próprias raízes. (...)
Muitas vezes na Bíblia, a imposição de um novo nome significa uma nova vida, uma nova missão, uma escolha de Deus para uma tarefa especial (cf. Gn 17: 4-5; Os 1,3,6; Mt 16, 18).»

   Frei Fábio Scarsato, "De Fernando se fez António", «Mensageiro de Santo António» (jornal internético), 18/5/2020.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Fátima vazia

Santuário de Fátima sem peregrinos, a 13 de Maio de 2020

OS PEREGRINOS NÃO ESTAVAM LÁ...


Nas suas casas, confinados à virtual
máquina, a projetar imagens muitas
mas sem dentro, 
todas a sucederem-se ensurdecidas
no retângulo feito de mudez,
nulo de sacralidade ou afeto. As imagens
dispersam-se na mente, in-significantes,
des-carnadas, a deixar os olhos escassos
e abismados frente a um espaço estéril. 
São imagens do ecrã a que falta
a doce sensação do lugar, 
a que falta a Mãe que lhes sorri,
a que falta o som das suas palavras
a inscreverem-se no olhar dos peregrinos
desde Maio de 1917.
São imagens a que falta
a azinheira amada salpicada
pela chuva intensa da manhã,
a que falta o cheiro das velas
acesas nos olhos ávidos apesar da névoa 
e mais que tudo, a que falta oferecer
o louvor grato à Mãe serena, pronta,
esperando à porta da capelinha
os mais pequeninos do mundo. 
São imagens a que falta
da Mãe poderem receber a bênção ansiada.
Uma simples folha, uma pedra ou
uma partícula de vento,
tocada pelo divino, torna-se abençoada.
Porque só nela há o encontro da sobrenaturalidade
e porque só nela os peregrinos
sentem regressar a casa regenerados.

14 de Maio de 2020
                                              Teresa Ferrer Passos

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Poema para o 13 de Maio

Fátima sem peregrinos, na noite de 12 de Maio de 2020 

ERA UMA VEZ... TRÊS PASTORES


Nossa Senhora desceu da sua nuvem
E caminha no meio das flores.
O pólen vem dourar-lhe os pés descalços,
As abelhas poisam-lhe nas mãos.
O seu sorriso dissolve-se na música
Que se desprende das pregas do vestido
A ondular na luz que tudo envolve.
Os três pastores-meninos esqueceram as ovelhas.
Os três pastores-meninos abriram muito os olhos.
Os três pastores-meninos respiram devagar,
Avançam de mansinho em direção à Mãe.
Os três vão de mãos dadas,
Os três pé ante pé,
Os três julgam sonhar.
Mas nunca tinham estado
Tão perto de acordar.

13 de Maio de 2020

                          Fernando Henrique de Passos


terça-feira, 12 de maio de 2020

AINDA A PANDEMIA Covid19

Pintora Graça Morais
Em entrevista ao jornal "Observador" (9/5/2020), a Pintora 
Graça Morais diz que tem vindo a pintar justamente o tema do medo desde 2011.

Na exposição “Metamorfoses”, a artista já abordava este medo e a forma como estava a observar as pessoas. Foi isso mesmo que passou para a minha pintura. A inquietação». 

Para a artista plástica, nascida em 1948, a pandemia «foi um grande choque, que obrigou a uma mudança radical de hábitos muito assustadora».

«Como artista, o isolamento não me custou, estou habituada. Custa-me a falta de liberdade, porque descobri que sou velha e pertenço a um grupo de risco»

domingo, 10 de maio de 2020

O amor é dar...

O PEQUENO LÍRIO DA MINHA VARANDA

Um lírio nasceu entre três irmãos. 
Eram quatro botões no mesmo caule.
Que peso descomunal, que família numerosa.
A terra do vaso era pouca e a água também.
Que espaço tão avaro! Três irmãos já descaídos, 
tombados e a morrer, desistiram de viver. 
Não havia alimento para os quatro.
Porém, os três irmãos mais velhos sabiam
que salvariam o mais pequenino,
o último que nascera.
Foi assim que o pequeno lírio, abriu as pétalas, viveu,
enquanto os três primeiros, a sucumbir,
lhe deram com amor a vida, que perdiam.

10/5/2020
                                                    Teresa Ferrer Passos

sábado, 9 de maio de 2020

Espanto novo...

Carvalho de Mambré, Hebron, Israel
DÚVIDA?

A um barco velho estaremos confinados
ou à jovem sombra de imortais carvalhos,
como os que vivem em Hebron, deserto distante?
Não sei.
Só sei que, hoje, um espanto novo, nunca sonhado,
cobre os plátanos da minha rua,
insuflados de folhas mais verdes do que a esperança.

9/5/2020

                                                   Teresa Ferrer Passos

quinta-feira, 7 de maio de 2020

"Manipulação do homem e da sua linguagem"...


Lembrando duas passagens do artigo de António Carlos Cortez intitulado "Sentido e destino da palavra em tempo de doença" in «Mensageiro de Santo António», 18/4/2020 (edição internética):

«Coadjuvada por políticas de isolamento social, a manipulação do homem e da sua linguagem, isso pode estar em curso, já que um longo tempo de quarentena (meio ano?, um ano?) irá alimentar no inconsciente colectivo o medo como forma única de ser e estar no novo mundo.»
(...) 
«Contra a ideologia do uniforme e do pensamento “em rede” (presos na rede para sempre e para sempre escravizados pelo virtual, confinados ao espaço de domesticação que serão as nossas casas), nada mais revolucionário que esse dinamismo interior que sobrevive na poesia e na música, na filosofia e nas artes, fontes da energia libertadora.»

UMA CULTURA DE MORTE?


A pandemia COVID 19 e a entrada numa CULTURA DE MORTE, em Portugal:

Desde que se use uma máscara e não haja uma aproximação excessiva de outras pessoas que não vivem connosco, já não há grande risco de contágio do Covid. E, quanto a riscos, ninguém os pode evitar com tantas outras doenças da mesma natureza ou mesmo de outra. A verdade é que tem havido uma propaganda demasiado agressiva dos meios de comunicação social que criam medos que não se justificam no nosso país; a propaganda é alucinante nos jornais e na maior parte dos telejornais e outros programas da televisão e da rádio. A divulgação dos avisos das autoridades de Saúde pública chegavam para se tomarem os devidos cuidados. Esta enxurrada de uma psicologia de medo leva a que pessoas que vivem sozinhas em zonas isoladas até tenham medo de ir para as suas hortinhas para não se constiparem (isto aconteceu no Algarve serrano) e terem de ir ao médico de um Centro de Saúde, o que para elas é um perigo de morte (Covid)! Estes factos mostram até que ponto se chegou. Estamos à beira de uma cultura de morte, ou já mesmo no seu ponto alto, pois as pessoas só pensam na morte e vêem nos outros um perigo de morte! Este caminho que se está a traçar só poderá conduzir a uma desestruturação mental da população mais frágil e mais isolada. Isto é ainda mais dramático num país que tem níveis de mortalidade por Covid muito baixos. 
7/5/2020

                                                         Teresa Ferrer Passos

domingo, 3 de maio de 2020

"Vida humana e valor, no cenário da pandemia Covid19"


Dois excertos da entrevista do Cardeal José Tolentino de Mendonça a Pedro Santos Guerreiro, inserida nos diálogos promovidos pela Fundação Francisco Manuel dos Santos:

«A pandemia por um lado traz coisas novas, por outro é um acelerador, faz-nos ver coisas que já estavam na sociedade – [por exemplo] a situação dos lares (uma espécie de parque de estacionamento à espera da morte) – muitos lares sem condições… porque não damos valor à vida humana.» 

«A esperança de vida aumentou, mas é importante que a esperança de vida não seja apenas cronológica, mas que seja participação na sociedade e valorização da sua missão, temos que pensar políticas que os coloquem como atores e cidadãos de pleno direito. A vida não acaba quando termina a chamada vida ativa.»

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Reflexões sobre o encerramento de todas as igrejas cristãs devido à pandemia Covid19. Um sinal?



«Talvez este tempo de edifícios eclesiais vazios ponha simbolicamente em evidência o vazio escondido nas Igrejas e o seu possível futuro – se não fizermos uma séria tentativa de mostrar ao mundo um rosto do Cristianismo completamente diferente.»

«Talvez devamos aceitar a atual abstinência de serviços religiosos e de atividades da Igreja como uma oportunidade para fazermos uma reflexão profunda e empenhada diante de Deus e com Deus.»

«Devemos ampliar radicalmente os limites da nossa visão da Igreja. Já não basta abrir, magnânimos, um «pátio dos gentios». O Senhor já bateu à porta a partir "de dentro" e saiu; a nossa missão é procurá-lo e segui-lo.»

«Podemos, naturalmente, aceitar esta Quaresma de igrejas vazias e silenciosas, simplesmente como uma breve medida temporária que, em breve, será esquecida. Mas também podemos aproveitá-la como um momento oportuno para procurar uma nova identidade para o Cristianismo, num mundo que muda radicalmente sob os nossos olhos.»

Tomas Halik, O Sinal das Igrejas Vazias - Para um Cristianismo que volta a partir, Paulinas, 2020, pp. 9,10,14, 16.