terça-feira, 5 de novembro de 2019

"Poema Branco" e "Novíssimo sol" (no 26º aniversário do nosso noivado)


POEMA BRANCO 

Dou-te um poema branco 
Como um vasto deserto antártico de neve 
Intacto como uma noiva virgem 
Angustiado como a folha de um escritor em dia-não 
Como o deserto de um Rei que não tem súbditos nem terras 
Como o nada que vai das ameias do castelo até ao horizonte 
   
Há muitos anos começou a nevar nos jardins do Paço 
A neve cobriu a terra estéril 
O gelo entrou pelas fendas que faziam de janelas 
A água correu pelas paredes interiores 
E o primeiro Inverno desse Rei foi duro 
E o Rei foi velho aos vinte anos 
E subiu ao cimo da torre mais cimeira 
E pediu a Deus que o levasse 
Mas Deus mandou-lhe o sono 
E o Rei sonhou com neve 
Sonhou um vasto deserto antártico de neve 
Que se estendia pelo espaço todo 
Até não haver estrelas 
E o branco era frio e duro e era nada 
Mas as lágrimas do Rei caíram sobre a neve 
E o seu calor fez derreter o gelo 
Aonde caíam por acaso 
E o deserto foi vendo despontar 
Pequenos tufos verdes 
Que se reproduziam sem parar 
Dando lugar a novos tufos verdes 
Até formar uma larguíssima passadeira verde 
Até ao Infinito 
Até ao Céu 
Por onde chegaste tu, Princesa, 
A decompor o branco 
Do vasto deserto antártico de neve 
Fazendo nascer dele as tantas cores 
Que agora enchem a vida tua e minha.

5 de Novembro de 2019

                            Fernando Henrique de Passos

***



NOVÍSSIMO SOL

nas cores do outono construí um mundo
cercada de flores
e a primeira foi a tua rosa.
ergui-a em altares de perfumes ímpares
e nas tuas mãos acesas de fogo
crepitou o amor a romper o céu
a romper os dias a quebrar os espinhos
a arder sem parar.
e os dias enormes pareciam-se anos
e os anos pequenos abriam-se eternos.
aqui já na terra
aqui já no céu
novíssimo sol abraçou-nos enfim
e uma tenda impossível ergueu-se para nós.
  
5/11/2019 

                                     Teresa Ferrer Passos

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