terça-feira, 28 de agosto de 2018

Pôr-do-Sol em Montenegro

















as nuvens correm encantadas 
 
em fragrâncias de medo 
 
arcos de cinzas entrelaçam-se 
 
e sonham um horizonte sem luz 
 
mas a luz coloca-se frente a elas 
 
e cresce devagar na noite. 
 
as sombras flácidas circulam 
 
anelam-se nos meus dedos 
 
e crescem como se fossem um lápis de Deus. 
 
os pinheiros entreolham-se 
 
tímidos apagados silenciosos 
 
e unem os ramos indistintos. 
 
parecem uma massa informe 
 
e a cor a apagar-se transforma-se em sons 
 
de cucos e de grilos sonolentos. 
 
o azul desvanece-se ao longe 
 
e o meu olhar a crescer na noite impossível 
 
traça vários arco-íris de amor. 
 
tudo se fecha e cresce e vibra 
 
parece a morte e é a própria vida 
 
a penetrar o meu olhar incrédulo 
 
estarrecido de espanto 
 
o meu olhar a embater 
 
no perfume do ar estonteante 
 
de cores a ser o pôr-do-sol que ontem vi 
 
o pôr-do-sol que hoje vejo. 
 
como não se repete e como é diferente 
 
e… amanhã e... depois de amanhã?…
 
haverá um novo pôr-do-sol 
  
um pôr-do-sol sempre a ser uma recriação 
 
e tão diferente… qual deles o mais belo? 
 
que encanto e magia omnipotente 
 
porque todos os dias há ali  
 
outros desenhos no espaço entre nuvens e cores 
 
multiplicações incoerentes. 
 
o caos na ordem e a ordem no caos 
 
o pôr-do-sol em Montenegro.

Montenegro, 10 de Julho de 2003

                                    Teresa Ferrer Passos

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