quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A moral da história



1 – Como caçar um macaco

Ponha um amendoim dentro de uma jaula que tenha as grades suficientemente apertadas para que a mão do macaco passe à justa entre elas. Quando o macaco vir o amendoim, irá meter a mão pelas grades para o agarrar, mas quando quiser tirar a mão outra vez de dentro da jaula, o punho fechado não conseguirá passar e o macaco ficará preso. Por estranho que pareça, o macaco não perceberá que se largar o amendoim ficará de novo livre.

2 – O Tempo e a Eternidade

Penso que quase todos nós imaginamos a vida eterna como qualquer coisa que vem depois da vida terrena, tal como o emprego vem depois dos estudos, ou como a reforma vem depois dos anos de trabalho. No entanto, esta forma de ver a eternidade coloca-a na categoria das coisas temporais, o que não faz muito sentido.

É verdade que a nossa mente está feita de tal modo que não conseguimos deixar de projectar a ideia de tempo em tudo aquilo que imaginamos ou consideramos mas, mesmo assim, auxiliados pela nossa capacidade de abstracção, devemos fazer um esforço para contrariar esta tendência, e podemos até contornar a dificuldade combatendo o tempo com as suas próprias armas.

Recorramos assim ao conceito temporal de simultaneidade, para dizer que a eternidade não é anterior nem posterior à existência terrena, antes lhe sendo simultânea. (Do mesmo modo, a jaula e a selva onde se pode ser livre e feliz são duas possibilidades que se oferecem ao macaco em simultâneo, a cada instante.)

Digamos então que tempo e eternidade são apenas duas maneiras diferentes de ver a mesma realidade, ou, talvez melhor, duas maneiras diferentes de a viver. Jesus Cristo veio explicar-nos isto e dar-nos o segredo que permite optar pela maneira certa de viver a realidade, embora a acção permanente do Espírito Santo, desde o princípio dos tempos, já tivesse levado gente sábia de diversas culturas a intuições parciais desta verdade.

A verdade é que é o nosso egoísmo que nos amarra ao tempo, o nosso egoísmo traduzido na obsessão em nos sentirmos bem, traduzido na multidão de medos e desejos mesquinhos pelos quais nos deixamos governar a cada instante. E as leis da moral, na sua origem, propunham-se apenas serenar este revolto mar interior que nos precipita no Tempo, que é o Tempo, mas que, uma vez serenado, se transforma no infinito mar da própria Eternidade.

3 – Moral da história

As leis morais não são o capricho de um Deus sádico, que se compraz em proibir-nos as coisas que nos dão prazer. Pelo contrário, as leis morais são simplesmente um “mapa do tesouro”, um caminho secreto para o Bem Supremo, uma pista que conduz do Tempo à Eternidade. Por isso, se alguém nos vier dizer para não nos preocuparmos mais com as velhas leis da moral, temos tanta razão para agradecer como o macaco a quem foram dizer que não largasse o amendoim.

22/10/2014


Fernando Henrique de Passos

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