terça-feira, 24 de abril de 2012

O cerco

O inimigo acampou às portas da cidade.
Lá dentro o pão escasseia,
Mas o poeta descrê da realidade
E quando só há cardos para a ceia
Ele diz-se em busca da verdade.

Mas a verdade fere e mata
Mais do que as forças inimigas.
Entre retortas o poeta busca a tese exacta:
Cozinha ideias com urtigas
Mas uma ácida aporia vem salpicar-lhe a bata.

Querendo comprar um postulado,
O poeta hipoteca o seu rapé.
Mas o dono da certeza está deitado
Sonhando que um dia terá fé
E o poeta não pára de sonhar que está cercado.


24/4/2012

Fernando Henrique de Passos

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