sábado, 21 de abril de 2012

A Chuva no Deserto

Desperto com o som da chuva no deserto.
Milhares de milhas me separam
Dos vastos areais
E o meu quarto é frio e seco.

Lá longe é quente e húmido.
Os ruídos da noite,
De um breu luminescente,
São o discreto contraponto
Aos fios de água intrometidos,
Escorrendo pelas dunas, pelos cactos,
Pela volúpia da areia aberta em regos.
E cintilam gotas ao tocar no solo,
Rebentam como bombas de napalm,
Espalhando não fogo mas desejo,
Porque as dunas anseiam pelo mar
E a areia quer ser praia do pacífico
E já não basta a chuva leve
Pois todo o deserto se levanta
Chamando os temporais
E os relâmpagos acorrem à chamada
E os trovões alucinam as raposas
E há vultos femininos junto ao mar
Esperando embarcações
Grandes navios rompendo o nevoeiro
Com largas correntes e com âncoras
A rasgar os fundos palpitantes
De algas e moluscos.

Visto o roupão, aqueço-me à lareira.
Mas as chamas agora são azuis
E nunca mais chega a luz do dia
E eu adormeço, entorpecido
Por um vapor com cheiro a maresia.

5/4/2012

Fernando Henrique de Passos


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